Um livro que tem muito a ver com Poder S/A acaba de chegar no Brasil.: “A Companhia”, de Max Barry, autor australiano e ex-executivo da HP. Ele já está no seu quarto best-seller em que satiriza o universo corporativo. Ainda não li, mas já comprei o livro. Assim que tiver um parecer, escrevo aqui. Por enquanto, leia abaixo a entrevista que o escritor de Sidney deu para a Exame. É ótima. Se preferir, clique aqui para ler no portal da Revista.
“Recursos humanos são um insulto”
15.05.2008
O autor de best-sellers que satirizam o mundo corporativo diz que não há salvação na forma como as empresas são atualmente organizadas
Por Tiago Maranhão (revista Exame)
EXAME No livro A Companhia, recém-lançado no Brasil, o escritor australiano Max Barry narra a história de um funcionário que não consegue descobrir qual o ramo de atuação de sua empresa. É mais uma sátira bem ao estilo de Barry, que fez sucesso lançando obras contendo críticas ácidas e bem-humoradas às grandes corporações. Na entrevista a seguir, ele explica melhor suas idéias.
1 - Por que todos os executivos de seus livros têm um comportamento patético?
Provavelmente, nem todo executivo é patético, embora grande parte seja. Existe um tipo particular de personalidade que é atraído ao mundo corporativo — e não um tipo que eu chamaria de feliz e saudável. Estou falando de gente com capacidade de subserviência ao sistema e poder de anular a humanidade dos companheiros de trabalho acima da média.
2 - O mundo corporativo é pior hoje do que há 20 ou 30 anos?
Há poucas décadas, não era comum que o único objetivo de uma média ou grande empresa fosse o lucro máximo. Claro que empreendedores como Rockefeller e Ford lutavam para obter lucro, mas eles se preocupavam com os trabalhadores, suas famílias e o lugar de seu empreendimento na sociedade. Hoje, assim que uma companhia fica grande, o dono a entrega a financistas ou abre o capital para extrair lucro máximo ao mínimo custo.
3 - Essa não é uma visão muito romântica de antigamente?
Não é que as coisas fossem mais fáceis para os empregados — em geral, as condições de trabalho eram piores. A diferença mais interessante é que Ford e Rockefeller dirigiam corporações, enquanto hoje as corporações dirigem as pessoas.
4 - Que mudanças gostaria de ver no mundo dos negócios?
Sou um pouco pessimista em relação a isso. Para fazer uma mudança significativa na natureza das companhias, teríamos de deixar de colocar o lucro em primeiro lugar, e sinceramente não acredito que alguém esteja disposto a fazer isso. Pequenos negócios privados até poderiam fazer, mas não os grandes — não, se quiserem sobreviver.
5 - Por que os funcionários não têm o poder de realizar essas transformações?
Pessoas são um péssimo ativo. Elas são um risco, nem sempre fazem o que você manda, pedem demissão, ficam doentes, fazem ligações pessoais em horário de trabalho, reclamam... As companhias iriam preferir robôs que pudessem ser ligados de manhã, fizessem exatamente o que fossem mandados fazer e pudessem ser guardados num armazém à noite.
6 - Qual dos rituais do mundo corporativo o senhor considera mais absurdo?
Reorganizações. As companhias são viciadas nelas. Deixam todos estressados, destroem a produtividade por semanas ou meses e, em geral, terminam não dando o resultado esperado.7 - Os departamentos de recursos humanos não deveriam estar mais atentos a essas questões?Ninguém percebe que a expressão “recursos humanos” é um insulto? Tenho empatia com as pessoas que trabalham nesses departamentos. Não é fácil. Elas têm de moldar todos os funcionários dentro de um padrão determinado pela companhia para que possam ser programados para certas tarefas. Mas o nome que se dá a essa tarefa é terrível. Se os alienígenas viessem para a Terra e fizessem um cultivo de pessoas para colher nossos sucos essenciais, eles nos chamariam de “recursos humanos”.
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