Claro que não.
Mas acho que poucas pessoas sabem disso. No meu livro, Poder S.A., mostro presidentes, diretores, donos de empresas que vão além de qualquer limite e usam e abusam do (mal)humor para "estimular" os empregados. Claro que sempre com o acordo do funcionário-colaborador. Tem gente que acha até que minhas histórias podem ser um pouco, digamos, exageradas. Mas, como sempre digo, o cotidiano é o melhor autor, ele sempre escreve uma história muito melhor que qualquer escritor. Leia abaixo a matéria que saiu na Exame sobre o Mário Gazin, fundador do grupo Gazin. Dizem que é uma empresa de varejo importante. Nunca ouvi falar. E nunca gastaria 1 centavo nessa empresa. O dono da empresa - e não do mundo - joga bombinhas nos empregados para eles "acordarem" e dá cuecas e calcinhas para os funcionários. Nas peças intimas, nada menos que as metas do ano bordadas. É pra ser engraçado? Como é que esses associados-colaboradores aceitam isso!!!???MATÉRIA RETIRADA DO SITE EXAME.COM. SE PREFERIR, CLIQUE AQUI PARA LER NA EXAME. exame/negócios As bombinhas e o bilhãoNa esteira do
agronegócio e com métodos de motivação folclóricos (como jogar
bombinhas nos funcionários), o empresário Mário
Gazin construiu uma rede de varejo bilionária
Márcio
Juliboni 06.08.2009 00h01
Lee Iacocca, lendário executivo que comandou a montadora americana
Chrysler nos anos 80, costumava dizer que "administração nada mais é do que motivar pessoas". Mário
Gazin, fundador do grupo
Gazin, 13a maior rede de varejo do país, pouco ouviu falar de
Iacocca, mas leva sua máxima ao
paroxismo -- e de um jeito bem peculiar. Nas festas de fim de ano,
Gazin distribui calcinhas e cuecas a seus aproximadamente 3 400 funcionários. Em todas as peças, manda bordar as metas da empresa para o ano seguinte. Além de estarem
folcloricamente gravados na roupa íntima dos empregados, os
objetivos estão fixados em cartazes coloridos espalhados por todos os cantos da sede do grupo
Gazin -- o que inclui as portas dos banheiros. Há anos, durante o período de festas
juninas, uma tradição de
Douradina, cidade onde a rede
paranaense nasceu,
Gazin estoura
bombinhas para despertar as pessoas durante o expediente. Os
estampidos são acompanhados de gritos: "Vamos mexer o doce, pessoal. Vamos mexer o doce!" Cada
cafezinho tomado na empresa é pago -- inclusive os consumidos pelo presidente. "Se não for assim, o pessoal abusa", diz
Gazin. Os 6 500 habitantes de
Douradina parecem não se incomodar com seu jeito excêntrico.
Gazin é uma espécie de ídolo local, o empresário de origem humilde que construiu um negócio bilionário, um sujeito que ajuda a movimentar a economia local com suas técnicas de motivação. Em 2008, o grupo
Gazin distribuiu aos funcionários que mais se destacaram 12 automóveis
Corolla, diversos carros menores, quase 50 motos, viagens e
prêmios em dinheiro. "A pressão para atingir as metas só seria ruim se eu não desse nada em troca", afirma
Gazin, um
paranaense de 59 anos. Em 2008, sua rede cresceu 27%. Na virada do ano, ele distribui calcinhas e cuecas bordadas com a fórmula 103 = 3% = 16% = 1,7% (ou seja, 103 milhões de reais de vendas ao mês, 3% de aumento do lucro líquido, 16% de retorno do
patrimônio e máximo de 1,7% de
inadimplência). Nos seis primeiros meses deste ano, 90% das metas foram batidas. Mas o
faturamento cresceu 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
As calcinhas, as cuecas e, principalmente, as
bombinhas ajudam a construir uma versão caricata do empreendedor, mas não explicam seu sucesso. Na esteira do
agronegócio, o grupo
Gazin fatura atualmente cerca de 1,1
bilhão de reais. São mais de 150 lojas, seis centros de distribuição, centro
atacadista, uma fábrica de móveis e outras três de estofados e colchões. O mérito de
Gazin foi crescer em mercados em que as grandes redes de varejo têm pouca ou nenhuma presença. Enquanto cadeias como Casas
Bahia, Ponto Frio e Magazine
Luiza lutam pelos consumidores das grandes capitais,
Gazin estendeu sua
atuação por áreas bem menos disputadas. Seus móveis e
eletrodomésticos são vendidos em lugares tão minúsculos quanto Alto do
Taquari, em Mato Grosso, com 6 300 habitantes, ou Cerejeiras, em Rondônia, com pouco mais de 16 000 habitantes. Somente sete dos 100 municípios atendidos pelo grupo contam também com uma loja da Casas
Bahia. "A estratégia de
Gazin é comer pelas bordas", afirma
Eugênio Foganholo,
diretor da
Mixxer,
consultoria especializada em varejo. "Assim, fica protegido contra a
concorrência."
A estratégia de crescer nos mercados do Centro-Oeste e do Norte do Brasil começou quase por acaso. As primeiras filiais da Móveis
Gazin foram abertas para acompanhar a
trajetória de migração dos
douradinenses. Seduzidos por terras mais baratas em Mato Grosso do Sul ou empurrados pela forte geada de 1975, que devastou as plantações de café do norte do Paraná, muitos produtores rurais da região saíram rumo ao Norte. A população de
Douradina, que tinha 30 000 habitantes quando
Gazin abriu sua primeira loja, foi reduzida a um quinto no período de 30 anos. (Hoje, milhares de cidadãos e seus descendentes podem ser encontrados em cidades que vão do Paraná a Rondônia.) Com o tempo, explorar pequenas cidades na fronteira agrícola deixou de ser uma questão de
sobrevivência para se tornar um modelo de negócios. Para crescer nesses mercados, antes desprezados pelos grandes
varejistas,
Gazin explorou a tripla condição de fabricante,
atacadista e
varejista. De suas próprias fábricas saem os artigos que abastecem os pontos de venda da rede. Como
atacadista,
Gazin reúne os pedidos de pequenos comerciantes das regiões onde está presente e os soma às encomendas de sua rede, o que lhe confere escala nas negociações com os fornecedores de
eletroeletrônicos. No ano passado, os serviços prestados a pequenos comerciantes foram responsáveis por 8% do
faturamento do grupo
Gazin.
Primogênito de cinco filhos de um casal de lavradores,
Gazin faz parte do grupo de empreendedores brasileiros que podem bater no peito e dizer que se fizeram sozinhos. Sua infância e juventude foram marcadas por privações. Ele interrompeu a escola no primeiro ano do ensino fundamental para ajudar nas despesas da casa. Colheu café, foi sapateiro e motorista de parteira. Aos 15 anos, depois de outras tantas ocupações temporárias, passou a trabalhar numa loja de móveis. "Era o melhor negócio do mundo: o pessoal saía feliz e, se não pagasse, a gente podia pegar o produto de volta", diz. Quando o dono decidiu fechá-la,
Gazin, então com 17 anos, convenceu o pai a vender o jipe da família e a comprá-la. No começo, ele morava nos fundos da própria loja, cozinhava lá mesmo e durante as tardes, quando o movimento era normalmente baixo, realizava bicos para
complementar o orçamento. Nesse período, chegava a vender fiado ou em troca de comida e mercadorias. Somente quando o dinheiro da primeira safra começou a circular na cidade,
Gazin teve certeza de que tinha comprado o negócio certo. "Eu sabia que as pessoas me pagariam quando a colheita viesse", diz. Hoje, o grupo
Gazin é controlado por dez pessoas, o próprio Mário
Gazin mais nove parentes, entre eles seus quatro irmãos. Todos já indicaram seus sucessores na administração do negócio. "Meus três filhos serão meus herdeiros", afirma
Gazin. "Mas nenhum deles fará parte da administração. Eles não sabem gastar menos do que ganham."